quarta-feira, 11 de maio de 2011

 

Muito

Ela o pergunta se ele está feliz. Gosta de perguntá-lo assim. Ele pensa e responde com um sim, que está muito feliz. Mentira. Ele não está feliz. Não é suficiente para aquilo que ele sente. Só se sabe que é muito, muito algo. E eles começam, e seguem assim, o suficiente para não ter de ser. Só muito.

Foto: Porto, Portugal, 2010.

sábado, 30 de abril de 2011

Em casa

Costumam dizer que nós só aprendemos a dar valor àquilo que já foi, depois que passou. E algumas vezes eu já cometi deste pecado. Desta vez, não. Volto com a sensação de que cada segundo, dia, cada problema, alegria, tristeza foram ao máximo aproveitados. Poucas vezes na vida senti que algo valeu tão a pena como esta experiência.

Viver no exterior me mostrou parte de um mundo que até então eu só podia idealizar. Trouxe mais experiência, mais paz, comigo e com as pessoas. Fez me sentir um cidadão do mundo. Trouxe esta sensação gostosa do valeu a pena, e o sonho de que cada vez mais estudantes cheios de sonhos e aspirações, como eu, possam ir lá fora e voltar com vontade de fazer algo melhor pelo que é nosso.

Ultimamente me deparei com algumas pessoas surpresas com minha volta “precoce” ao Brasil. Lá no fundo é bom saber que alguém lhe quer por perto, mas meu principal motivo vem cá de dentro, mesmo. Senti que era a hora. Me ouvi.

Por mais que a experiência de “conhecer o mundo” esteja nos sonhos de talvez a maioria das pessoas, chega uma hora em que faz falta aquele lugar onde possamos nos sentir completos. Hoje, para mim, este lugar é Salvador, é o Brasil.

Não vou me alongar por aqui, não. Acho que a maior conclusão que eu tirei dos vários países, cidades e pessoas que conheci é que nós, seres humanos, somos um só, com os mesmos desejos, medos, angústias, tesões. Queremos as mesmas coisas, no final de tudo. Somos iguais.

Obrigado a todos que passaram pela minha vida nesta época tão importante. Vai ser muito bom sentir saudade de vocês.

Muito obrigado, também, aos que permaneceram enquanto estive fora.

A todos, meu até breve. E vamos beber.

domingo, 10 de abril de 2011

Voltando pra casa

Ontem comecei a arrumar meus papéis para a volta. E enquanto separava os mapas, bilhetes de trem, documentos, etc., pensava em como tudo isto aqui me fez, e tem me feito bem. Viagem, não é? É, uma viagem interna muito boa de se fazer.

Na foto, a mala que trouxe tudo que eu podia trazer do Brasil, de casa, comigo. Quando eu a arrumava com uma mistura de ansiedade, medo e felicidade pelo novo que estava por vir. O novo veio, e está prestes a voltar. Realizado e ansioso pelos novos que o esperam. Um ciclo bom, que parece só ter começado.

domingo, 3 de abril de 2011

terça-feira, 29 de março de 2011



Parabéns, Salvador

Dizem que o lar é aquele que você escolhe para viver. Hoje Salvador faz 462 anos de fundada e eu, depois de passar por 10 países e cidades a perder de vista, posso afirmar que, apesar dos inúmeros problemas que a nossa cidade enfrenta, eu não a trocaria por lugar nenhum deste planeta quando falamos no quesito possibilidade de viver bem. Tive a sorte de nascer no mesmo lugar que adotaria para viver.

Parabéns, Salvador. Parabéns soteropolitanos de nascimento e de adoção. 
Saudades da minha terra.


Foto: Da janela do meu quarto, do meu pôr do sol particular diário. Uma das primeiras da minha vida na fotografia dslr.


segunda-feira, 28 de março de 2011


Essa foto me faz bem. Lá da África, no Saara, nesta minha boa reta final. Pensei em, mas acabei desistindo de escrever sobre minha experiência em terras africanas. Acho que minhas imagens, aqui e aqui, falarão mais daquilo que minhas palavras não poderiam agora. 

Salamaleicon.

domingo, 20 de março de 2011

Reflexão de um brasileiro no exterior sobre Obama no Brasil

Além do fato de que os ministros da presidente Rousseff tiveram de ser revistados, em seu próprio país, para chegarem perto do presidente Barack Obama, a visita do astro pop ao Brasil me chamou a atenção também por outros pontos, considerando a perspectiva de um intercambista brasileiro vivendo na Europa.

Em todos os discursos que pude assistir, inclusive na repercussão que o encontro teve por terras europeias, me pareceu que os vizinhos ricos estão, de fato, começando a se preocupar com os números crescentes do ex primo pobre (mas ainda repleto de desigualdades, que se frise). Dentre as promessas feitas pelo senhor Barack, tratados comerciais, econômicos e de ajuda na organização das Olimpíadas e Copa do Mundo estiveram na agenda. Mas o que me intrigou, dentre suas falas, foi o fato do presidente anunciar que "é hora de os Estados Unidos levarem a serio o diálogo com o Brasil".

Por quê? Não só na América, como aqui na Europa, o Brasil tem sido visto, notado. Não diria com bons olhos porque nós sabemos que quando alguém cresce, os que já são grandes estão na moita, tentando acompanhar de modo que o novo emergente não cresça tanto e tão rápido. Um exemplo disso é a tentativa antiga do Brasil de ser um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, no qual Obama se limitou a declarar que tem “apreço” pela vontade daquele que seria o único representante da América Latina em um conselho tão importante como o em questão.

O Brasil está crescendo e o mundo está de olho. Seja para se estabelecerem na guerra entre possíveis parceiros comerciais, vide exemplo da briga travada principalmente entre EUA e França para vender caças à Aeronáutica brasileira (negócio estimado em mais de 10 bilhões de dólares), seja para evitar que o Brasil saia da condição de exportador de bens primários, aqueles mais baratos e que não são protegidos pelos subsídios norte americanos, por exemplo, e passe a exportar tecnologias e serviços, que é o que Obama, cheio de falatórios em bons discursos, a meu ver, veio tentar, segurar as pontas. Talvez para a nossa sorte, me pareceu que a presidente Dilma tem pouco de ingênua e já deixou claro ao vizinho: O país quer crescer.

Outra coisa que me deixou, digamos abismado, foi no discurso de Obama para empresários na Confederação Nacional das Indústrias, em Brasília, quando, na saída do presidente, as centenas de empresários da alta burguesia tupiniquim sacaram seus iphones quatro (muito provavelmente comprados em Miami) e começaram a tirar fotos e a se espremerem para tocar, apertar a mão ou somente, quem sabe, sentir o perfume do artista, ídolo, ou sei lá quem eles pensavam que ali estava.

É aquela coisa, a gente até cresce, mas o cheiro de província parece tardar mais um pouco.

segunda-feira, 14 de março de 2011


Eu tava "mais sem graça que a top model magrela na passarela" quando abri a caixa de emails e me vi de camisa listrada summer 2011. Presente lá do edifício Nava. Desde então eu fiquei bem.

sábado, 12 de março de 2011


Acordei
Tomei o maior e o mais demorado café
Tomei outro café

Não era o que eu queria
Só me fazia lembrar.

quinta-feira, 10 de março de 2011


Sobre ditaduras

Uma das maiores colaborações que o intercâmbio me trouxe foi o aumento da atenção para o que está fora do meu círculo habitual (país, cidade, casa, padaria da esquina, etc.). Por exemplo, estes dias andando por Madrid encontrei vários desses cartazes com o pedido de liberdade para a Líbia, país africano comandado há quatro décadas pelo ditador Muammar al-Gadaffi, que chama o seu regime, ironicamente acredito eu, de uma "democracia direta".

Ter encontrado os cartazes nas ruas madrilenhas me fez refletir sobre esse olhar macro ao que está a nossa volta. E que talvez possa ficar para nós, brasileiros, o recado dos europeus de que não é porque está acontecendo no outro lado do mundo que nós, planeta terra, não estamos inseridos nas causas, contextos e consequências dos problemas que a princípio não são nossos. Estejamos atentos.

terça-feira, 8 de março de 2011


A vocês, responsáveis por muitos dos meus melhores dias, a quem confesso paixão eterna: Feliz Dia Internacional da Mulher. Suas lindas.

Foto: Vaticano, 2011.

segunda-feira, 7 de março de 2011



Eu deveria estar estudando, os prazos para trabalhos e provas estão apertando, mas como dizem que baiano que é baiano só começa o ano depois do carnaval, gastei umas horas mudando os ares por aqui.
Pombo correio, voa depressa, e esta carta...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Hoje, após apresentar um trabalho na aula de jornalismo eletrônico, uma colega veio me perguntar de que parte do Brasil eu venho. Comecei a responder que sou de Salvador, da Bahia, e já estava engatilhado com o clássico resumo geográfico que costumo fazer quando algum estrangeiro me pergunta isso quando ela me revelou que morou no Brasil e conheceu a Bahia.

Conversa vai, vem, e a colega me disse que antes de ir ao Brasil pensava que todo o país seria igual a Bahia, e que todo o Brasil deveria ser igual a Bahia e aos baianos. Conversa foi e eu, orgulhoso de onde vim, fiquei pensando naquilo que a  jovem espanhola acabara de me afirmar com uma rara empolgação europeia.

Acho que lá no fundo, o que eu vi no rosto dela foi um pouco do retrato das minhas saudades.

domingo, 23 de janeiro de 2011


Volto logo

Aviso aos prezados e prezadas que por aqui passam que o blogueiro eu anda passando por uma fase de abstinência aguda da droga internet e, por isto, o blog anda sozinho. Venho escrevendo coisas neste tempo fora do mundo virtual e prometo contá-los aqui assim que minha conexão com o mundo online estiver restabelecida.
Achei que deveria passar para dar essas satisfações. 

Na foto, a praia onde passei meu ano novo, nas areias de Barcelona. Breve no flickr.
Forte abraço.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


Comecei com as resoluções de ano novo. Todo ano eu faço isso sem listar coisas, numerar, etc., este ano não. Esta semana Samara me lançou a ideia de criarmos nossas listas, nos enviarmos por email e nos cobrarmos no final de 2011. Gostei da proposta porque descobri que estava sem muitas metas para o ano que chega. Tá, terminar o intercâmbio, voltar pra casa, tcc na faculdade, voltar ao surf e à paz de espírito que ele me dá, voltar ao violão, amar, das mais variadas formas possíveis, estavam numa lista prévia, mas isso é pouco. Não sei quando e nem por que deixei de sonhar muito. Deixar de sonhar muito é uma grande merda.

Enquanto ando sem o mínimo de promessas que a proposta de email pede, vou pensando nisso tudo, no ano novo, no velho, em mim. Coisas das férias, e de ter mais alguns meses aqui para pensar pelo simples prazer de fazê-lo.

Enfim, espero que gostem da fotografia.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


Hoje você me trouxe de volta algo que eu já não sabia se vivia comigo. Esta vontade de ir sem pedir a volta em troca. Vontade, modo e sentimento que eu já não plantava. Eu, que aprendi a me envolver com pessoas do tamanho de pequenas e tímidas poesias, retraídas em um eu sem eus, hoje me sinto outra vez. Apaixonado, mais uma vez.

É, mais uma vez. E apesar do mais um, como em todas as outras vezes, acredito e continuarei fazendo o possível para que seja maior, mais, para que seja melhor. E eu adoro isto. Adoro esta possibilidade do amor, esta necessidade daquilo que se sente e daquilo que se constrói, esta necessidade da conquista. Conquista esta que hoje eu posso afirmar em ser a mais difícil de uma vida, pelos motivos óbvios do eu aqui e do você aí.

Mas não deixo de gostar. E é muito bom me ver assim, acreditando em um sentimento com todas as forças nas quais eu poderia dedicar a uma crença, apostando, jogando, me dispondo ao risco frio e doloroso que se sustenta na possibilidade do estar contigo. Sinto-me vivo assim, me sinto eu.

Sei que mesmo que esta paixão acabe como as que passaram, ou como as que ficaram apenas em promessas, ou ainda que eu não seja esta pessoa que os seus olhos e sorrisos insistem em me dizer, hoje eu me lembrei, na hora certa, em um momento melhor ainda, que viver sem tesão, brincando com o medo da possibilidade dos nãos, definitivamente, é não viver.

Amanhã? Amanhã talvez nós possamos viver uma bonita ou uma das melhores histórias de amor, paixão, de amizade e tudo o mais que criamos neste mundo paralelo comum aos melhores casais. Enquanto isto não acontece, eu lhe agradeço por ajudar a me devolver ao meu eu mais apaixonado. Pela vida. Por você.

E até muito breve. Quando poderemos, ou não, viver tudo isto que somente nós dois podemos ler.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010



Pegando o Vaporetto e tomando no Funicular
Ou o dia que morei em um bairro nobre de Milão

“Milão não tem nada”. “Só tem Mcdonalds”. “Vocês fizeram merda”. Apesar dos avisos de amigos, as passagens estavam compradas. Fomos.
Primeiro os rapazes de Madrid, depois a moça da França, seguida das duas Sevilhanas. Todos no aeroporto de Bergamo, a cerca de uma hora de Milão. Isso porque a Ryanair, conhecida como a companhia aérea mais barata da Europa, tem o péssimo costume de mandar seus clientes para aeroportos secundários, menores. Péssimo hábito.
Na parte de fora do aeroporto a neve nos esperava e, apesar da emoção à primeira vista, (lembrei da neve do natal em “Esqueceram de Mim 25”), aquele gelo só é bonito a distância. Mas, como estávamos em Bergamo e “Milão não tem nada”, fomos à rua, já sem neve e com um frio tolerável.


Fundada no século II A.C, a cidade com pouco mais de 125 mil habitantes é uma típica pequena cidade europeia. Chãos de pedras, construções antigas, todas muito bem conservadas e distribuídas por uma Cidade Alta e uma Cidade Baixa, que dão o charme todo especial da cidadela. Começamos muito bem.
Depois de pegarmos um Funicular para subir até a Cidade Alta, fomos comer. E foi em uma pequena padaria, no topo de uma ladeira, em uma rua apertada e com chão de pedras que tivemos o primeiro contato com a culinária italiana. E ali percebemos que algo de muito bom estava a nos esperar, além daquelas pizzas, de massas leves e recheios impossíveis de serem descritos pelos melhores mestres da arte do escrever.
Deslumbrados com aquela pequena charmosa cidade, saímos de Bergamo com planos de conhecer Veneza no dia seguinte. Antes, uma parada no albergue, que havia sido reservado pela internet, para tomarmos um bom banho, tuitarmos as belezas daquele dia, dormirmos e nos prepararmos para o dia depois.

Até aqui está tudo muito lindo e cheio de pretensões poéticas (ui). Vamos esquentar: o albergue não era albergue e a proprietária do apartamento queria 200 euros de fiança e mal falava inglês e nós não tínhamos onde ir às 22h sem falar italiano e sem conhecer nada de Milão. Acreditem, foi muito mais tenso do que este parágrafo de uma vírgula.
Ficamos no “albergue” e fomos dormir repletos de dúvidas quanto à idoneidade psicológica daquela senhora, que suspeitávamos de recentemente ter aplicado botox nos lábios e do seu funcionário, assessor e talvez amante indiano que a acompanhava na tradução do italiano para o inglês. Ah, só pra constar, nada de wifi, claro.
Acordamos todos inteiros, com os rins nos devidos lugares, nossos pertences, também e, aos poucos, apesar da saudade dos 200 euros da fiança, fomos nos acostumando com a estadia no apartamento em um bairro nobre de Milão.


Aqui uma pequena ressalva precisa ser feita. As próximas linhas serão muito curtas e objetivas porque seria injusto tentar descrever uma experiência que deve ser sentida: Conheça Veneza. Posso lhe garantir que será uma das melhores experiências da sua vida. E isso não é papo de mochileiro abestalhado com o gosto de gelo da primeira comida de neve. Conheça Veneza. Suas ruas de pedra e suas ruas de água. Dê uma volta pela cidade com o Vaporetto. Deixe-se enfeitiçar por aquela cidade diferente de tudo que você poderá ver em uma vida. Experimente as pastas, o sorvete, o café... Repita o mantra eu vou conhecer Veneza.

Voltamos para um dia em Milão e, apesar de não ser uma cidade repleta de pontos turísticos, redescobrimos a ótima culinária e conhecemos pessoas simpáticas que, mesmo no frio, param na rua para ajudar a encontrar o melhor caminho, no esforço de falar inglês, francês e até português.


Acho que, no fim das contas, o que descobrimos, mesmo, é que você faz a cidade que quer conhecer. Bergamo foi uma das mais lindas que vi até hoje e provavelmente estará entre as mais no final desta jornada. Milão tem, mesmo, muitos Mcdonalds, mas há muito por onde se perder em suas ruas. E Veneza... É, deixamos uma parte de nós naquela cidade.

Até a próxima.

****
Obs. Eu não posso contar que deixamos de pagar os ônibus algumas vezes em Milão, das corridas para pegar o trem, das inúmeras vezes que nos perdemos, muito menos do jovem bêbado milanês cantando “Hey, Jude, dont be afraid...”, com flores na mão e doido pra entregar a uma das meninas. Muito menos do medo de sermos abduzidos por aquela italiana e seu (amante?) indiano, não é? Esse tipo de coisa pode estragar a reputação do viajante.



*A Louise, Paula, Márcia e Adalton, companheiros de mochilas. É sempre muito bom viajar com vocês. 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010


O estar só

É interessante. No começo é difícil, e por vezes você se flagra confuso com a mistura de sensações que passam, muitas indefiníveis, indecifráveis, sempre acompanhadas da ansiedade pelo novo, do desconhecido. 
Outras vezes é desesperador. Você perde um pouco da noção do que fazer quando se está sozinho, as músicas já se repetem, os filmes não tem mais graça e os livros, com o tempo e ritmo dos livros, não acompanham o seu ritmo, a essa altura já regado de uma ansiedade ainda maior, sufocante.
Até que que você começa a gostar. Não em prol à solidão. Cada vez mais eu tenho certeza da importância do estar entre outros, mas, você passa a se ouvir mais, melhor, a entender seus tempos de ansiedade, de solidão, seu tempo. E talvez more aqui um dos meus melhores acréscimos nesta empreitada... o ouvir.

***
Foto feita embaixo do Arco do Triunfo, em Paris.

domingo, 7 de novembro de 2010



Tempo

Lhe trago e lhe levo por onde ando
E por onde penso

Como se o levar e o trazer a fizessem ser aquilo que tanto espero
Sei que não

Mas, mesmo sabendo
Continuo lhe levando e lhe trazendo
Numa mera esperança de que, um dia
Possamos ir.

**
Rabiscos escritos a caminho de Paris, ao som de Bethânia.

terça-feira, 26 de outubro de 2010



O começo


Começo pedindo desculpas às pessoas que me cobram notícias da minha vida fora do Brasil. Como já conversei com alguns, o primeiro mês aqui foi de adaptação, resolução de documentos, moradia, computador, etc., daí minha demora pra voltar aqui. Mas vamos lá...
Como muitos já sabem, estou vivendo em Madrid, capital da Espanha, país membro da união europeia que, assim como outros países da região (e do mundo), vive dias de crise econômica, o que particularmente para mim enquanto estudante de jornalismo e estrangeiro, está sendo ótimo. Tanto profissionalmente, pelo momento histórico que o país vive (tive o privilégio de presenciar uma greve geral fomentada por trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho), e financeiramente, por poder viver em um país europeu por valores relativamente mais baratos do que os custos de vida no Brasil.
Sobre viver no velho mundo, a experiência está sendo incrível. Tá, tem uma hipérbole aqui e eu não sei se incrível é a palavra certa pra definir este novo mundo que passa pelos meus olhos diariamente, mas, por agora, incrível é a que usarei. Não por ser tudo perfeito, até porque esse conceito romântico nunca existiu, mas por estar em um lugar onde, dentre tantas outras coisas, eu posso ir e vir, por onde e quando quiser, sem me preocupar em ser roubado, por exemplo.
Moro a 40 minutos a pé da Universidad Rey Juan Carlos, em um apartamento de três quartos, um banheiro, uma cozinha e uma sala. Eu, mais cinco jovens da minha faixa etária e duas crianças, todos brasileiros. E isso é bom e ruim. Bom pela adaptação à cidade que foi mais fácil e ruim no que diz respeito à prática do idioma. Se bem que estudando, ouvindo, lendo e assistindo espanhol todo dia, talvez seja bom manter um pé na língua materna.
Na faculdade, eu e o amigo que veio comigo da UFBA somos conhecidos como "os brasileiros" e, de certa forma, nos beneficiamos da boa reputação que o governo do senhor Luis Inácio parece ter por todo o mundo. Até onde estudamos, o europeu não tem fama de povo receptivo a estrangeiros, mas aqui ainda não senti diferenças de tratamento por ser de outro país. Até pelo contrário, me parece que cada vez mais as pessoas querem conhecer e saber mais sobre o Brasil.
Faço três matérias na faculdade, mais o curso de espanhol para estrangeiros, somando quatro disciplinas. A experiência nesse quesito também está sendo muito boa. A UFBA tem um cunho mais reflexivo, enquanto que aqui, até pela grade de disciplinas que eu escolhi, a prática profissional é mais intensa. Acho, também, que por ter acabado de sair de um jornal posso aproveitar melhor, já com algum conhecimento de causa, o que estudo por aqui. As aulas são boas, os professores, também. Claro, tudo dentro do respeito às diferenças culturais de cada país (aulas ditadas e coleguinhas de cabeça baixa copiando até o peido dos professores) e seus modos de fazer as coisas. Sobre esse quesito, o espanhol é um povo latino assim como nós brasileiros e, talvez por isso, as diferenças, pelo menos em Madrid, não são gritantes no quesito cultural.

Por falar nela, Madrid é uma cidade encantadora. Madrid não dorme, tem festas de segunda a segunda, muitas de graça, outras de graça e com bebida grátis até determinada hora e outras pagas, nas casas mais renomadas, digamos assim. Além disso, a cidade é repleta de parques, museus, teatros, cinemas, muitos gratuitos e todos muito bem cuidados. E aqui mora um problema: há o risco do pobre intercambista surtar e viver em festa de segunda a segunda, como muitos colegas europeus fazem. Eles, só eles, mãe.
Devo fazer uma ressalva para o sistema de transporte madrilenho, considerado como um dos melhores do globo. Ônibus, trens e metrôs muito bem interligados e não há uma rua, um beco sequer que não tenha como se chegar com um dos três tipos de transportes públicos disponíveis. E não se vai em pé ou apertado (heim, baianos?), além do tempo de espera que chega a, no máximo, “absurdos” 7 minutos, e somente durante as madrugadas. Sete minutos não era nem o que eu demorava pra chegar no ponto de ônibus da minha rua, em Salvador. Sem falar nos milhares de minutos esperando o transporte que geralmente não parava no ponto... enfim, voltando...
Sobre mim, eu poderia começar a filosofar sobre a importância de um intercâmbio na vida do ser, no quanto isso aqui poderá somar na minha vida, no meu futuro profissional e etcéteras, mas, ando tão fascinado com a infinidade de dúvidas, questionamentos, incertezas e descobertas que ando vivendo por aqui que, se vocês me permitirem, deixarei as viagens mais profundas para aos poucos.
Um abraço e até a próxima. Prometo que será próxima.
*Fotos feitas por mim na Plaza de Toros e no Parque del Retiro, respectivamente. O próximo passo está sendo o de edição de fotos. O lightroom já anda a todo o vapor e já já mais fotos estarão no ar, também.